sábado, 9 de junho de 2018

Uma oposição da qual não precisamos

Em todo segmento sindical ou político - partidário que esteja em evidência ou na situação de mando, é comum, diríamos até natural, que haja alguém ou grupo para fazer oposição. Tal postura é necessária para se evitar que desmandos ou interesses particulares prevaleçam sobre a classe ou categoria que esteja sendo representada.  Ou seja, uma oposição é necessária ao equilíbrio do poder. Ela é propositiva quando está interessada em defender os direitos do grupo que pretende liderar, apontando caminhos e projetos que atendam às reivindicações da coletividade. Alguns podem nos chamar de ingênuos ao defendermos uma oposição com este perfil. Ledo engano. Uma oposição briga também pelo poder que quer tomar, opõe-se ao líder da situação, mas jamais poderá ir contra os interesses do grupo ou classe. Quer tomar o poder para servir melhor. Se fizer o contrário, trata-se de uma pseudo-oposição.

Nos anos de campanha salarial dos agentes de saúde de Salvador, essa questão vem à tona. Surgem muitas oposições, mas oposições a que mesmo? Quais são as motivações desse contraditório? Nessa seara, sobram achismos, amadorismos, ressentimentos e muita vaidade. O interesse maior da categoria fica marginalizado. Na verdade fazem insinuações, hesitam entre isso e aquilo, acusam sem fundamento, porém não revelam o interesse no próprio umbigo. Anualmente, entre os agentes, surge uma "bandeira" que define muito bem quem é situação ou oposição (entendemos por situação aquela liderança que tenha amplo apoio dos agentes de saúde; oposição, aquela liderança que receba menor apoio dos trabalhadores). Conhecemos algumas, mas nos deteremos nas três "bandeiras" que consideramos de maior importância: mudança de regime, horário ininterrupto e o tão esperado plano de cargos e vencimentos (PCV).

Quando a ideia de mudança de regime foi apresentada aos agentes de saúde, seu idealizador sofreu duras críticas por representantes sindicais e políticos. Diziam que a proposta era inviável, além de outras histórias forjadas. A Associação dos Agentes Comunitários e de Endemias de Salvador (Aaces) era criticada diuturnamente, mas os servidores acreditaram e deram  total apoio a ela. Situação pior passou a Aaces ao apresentar o projeto - piloto do horário ininterrupto. Afirmavam aos quatro cantos que o projeto era uma insanidade, e os agentes teriam a remuneração reduzida por conta dele. Mais uma vez, a entidade recebeu o apoio dos agentes, e o horário foi implantado e gozamos dele até hoje.

A oposição à época, ao criticar a Aaces, na verdade, ia contra os interesses da categoria. Aliás, todas as vezes em que a associação levantava uma "bandeira", os do contra se manifestavam para criticar, para desacreditar, de modo que as convocações ficassem estéreis. No entanto, o tiro sempre saía pela culatra. Tínhamos assembleias cada vez mais cheias. O prestígio e a confiança dada à Aaces pelos trabalhadores despertavam a raiva, a inveja e a difamação dos opositores. Mas, no final, o resultado provava que a conduta da Aaces foi correta.

 Atualmente, a bola da vez é o PCV. Nunca ouvimos pessoas falarem tanta besteira como sobre essa questão. Fala-se que o plano não  presta, que vai nos tirar dos SUS, que é melhor ficarmos com o que já estamos. Detalhe: os agoureiros que alardeiam isso nas redes sociais sequer tiveram acesso à minuta do plano. Ficam presos ao velho e fracassado achismo  de ontem. Arvora-se a analisar aquilo que desconhecem. E o pior: na má fé esquecem-se de que a criação do PCV está a cargo de uma Comissão de Trabalho formada por dois membros de cada entidade representativa;  certamente, a Aaces é a que mais defende com afinco a aprovação do plano dos agentes, razão por que os agoureiros de plantão se colocam contra ele.

Quem se presta a um papel tão medíocre desses não pode nem ser chamado de pseudo-oposição, mas de porta-voz de quem se esconde e não se expõe, não mostra a cara, como dizem na gíria.  Agoureiro talvez seja a designação mais apropriada, uma vez que anuncia pessimismos e agouros; torce para que tudo dê errado para se vangloriar depois. Mas a categoria tem uma consciência histórica de luta ativa e sabe ouvir quem de fato luta pelos seus direitos. A prova disso foi a última assembleia convocada pela Aaces. Mais de 700 agentes se compareceram e mostraram sua força na vontade de lutar pelos seus objetivos.

Uma oposição saberia reconhecer isso, mas não temos nem uma pseudo - oposição; o que temos são aventureiros, porta-vozes de pessimismos, "sabedores" do nada, patrocinados pela inveja, maldade e interesses escusos, encarnadores de uma oposição da qual não precisamos.


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