Há quem diga que morreria de amor. Seria mais coerente se afirmasse que daria a vida por amor. Amar é entrega de si, é doar-se sem reservas, é enfrentar os próprios cárceres emocionais, é assumir o risco de morrer. Jesus afirma: "Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida por seus amigos" ( Jo 15,13). Morrer, ao contrário, é fechar-se em si mesmo, é negar a solidariedade, é ficar preso no próprio mundo, é mergulhar nas angústias, no ódio e nas frustrações, é um enganoso modo de ganhar a própria vida. Mas, assim, quem "quiser salvar sua vida, a perderá" ( Mc 8,35).
O ser humano trava em si mesmo uma "guerra" entre amar e morrer. Eros e Tânato querem a primazia, em linguagem psicológica. Ou a luta incansável entre o Novo Homem e o Velho Homem, em linguagem teológica. Não somos, portanto, nem inteiramente um nem outro. Apesar disso, devemos "alimentar" o Eros ou o Novo Homem. Tânato e o Velho Homem não fenecem, mas devem ser "desidratados" , "desnutridos", de modo que não sejam o guia da existência do homem e da mulher.
Os assassinatos, os discursos de ódio, os preconceitos e até mesmo as políticas que retiram direitos dos mais pobres são os efeitos catastróficos da nutrição dada à morte, ao Tânato ou ao Velho Homem. Quem é movido por esses instintos egoístas forja sofrimentos e desgraças na sociedade. "Quem não ama permanece na morte" ( 1Jo 3,14).
Daí a necessidade de lutar para ter uma vida sob a égide de Eros, do Novo Homem. Alimentar o amor nos impede de ficar presos nos grilhões da morte, nos remete à conexão com nossa Raiz, nosso Fundamento, Deus, que "é Amor" (1Jo 4,8). Ou seja, o amor nos liberta
Seus frutos são a alteridade, o respeito ao próximo, a vivência da solidariedade, o abraço à diversidade, a prática da compaixão e do perdão. Os rótulos não têm valia, se é homem ou mulher, hétero ou homo, negro ou branco, tudo é relativizado, o que importa são as pessoas que devem ser amadas, acolhidas, sem, no entanto, menosprezar suas peculiaridades.
Se for assim, não há outra alternativa senão amar. A razão primeira da humanidade é a promoção do amor, único caminho capaz de libertar os seres humanos das amarras da morte, "porque esta é a mensagem que ouvistes desde o início: que nos amemos uns aos outros" ( 1Jo3,11).
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