Desde que o homem e a mulher se perceberam como um ser pensante, procuraram se relacionar com o sobrenatural, com o metafísico, com Deus. Não há registro na História de uma civilização que não tenha criado uma religião, que não tenha buscado o sagrado. Dessa forma, verifica-se que o ser humano é essencialmente religioso. Por meio dela, procura compreender sua origem, o mundo, a vida , a morte e seu possível destino.
Como a diversidade e a diferença culturais caracterizam a humanidade, cada cultura criou forma diversa de se relacionar com a divindade, ainda que entre elas haja uma mútua relação de troca cultural. Sendo assim, respeitando suas peculiaridades, não existe religião pura, sem influência; nelas, há encontro e desencontro de vivências e experiências de homens e mulheres que perpassam todas as sociedades do globo terrestre.
Infelizmente, por causa disso, muitos conflitos e guerras religiosas foram gerados e responsáveis por milhares de mortes ao longo da caminhada da humanidade. As disputas por influência entre o cristianismo e o Islamismo e, ainda dentro do cristianismo, entre católicos e protestantes é prova cabal dos malefícios que a questão religiosa pode fomentar no mundo.
No Brasil, as religiões de matriz africana sofrem terrível perseguição por parte de evangélicos fundamentalistas (católicos também discriminam, mas em menor proporção). Trata-se, na verdade, dos resquícios coloniais, período no qual os negros e as negras eram tratados como mercadoria e tinham sua cultura e sua religião marginalizadas e demonizadas. Parcela significativa dos evangélicos atualizam essas mazelas contra a comunidade negra. Por isso, resistir é preciso.
Dessa forma, a religião, como produto cultural, criação humana, tem seu lado patológico, doentio. Mas seria possível, ainda assim, encontrar uma religião que fosse melhor ? Inquirido pelo teólogo Leonardo Boff, Dalai Lama disse sabiamente: “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor.”. Tiago vai nessa mesma linha de raciocínio quando afirma que "Religião pura e irrepreensível aos olhos de Deus Pai consiste em cuidar de órfãos e víúvas em suas necessidades" (Tg 1,27).
Ou seja, é melhor religião aquela que nos torna pessoas compassivas e misericordiosas com o próximo, que nos leva a amar e perdoar, a promover o bem e a confiar sempre em Deus, nosso Pai. Por isso, quem faz do seu credo razão para discriminar, condenar, ou mesmo odiar, está nas trevas. Como diz João, "quem não ama permanece na morte" ( 1Jo 3,14).
Hoje, 21 de janeiro, quando é celebrado o Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa, quer se promover o respeito aos mais diversos credos, sobretudo aqueles que são intensamente vítima da discriminação e intolerância, quer que a diversidade religiosa seja respeitada e, com ela, a identidade do grupo que a professa. Mais que tolerante, precisa-se ser amável, compassivo e misericordioso um para com o outro, assim seremos pessoas melhores e refletiremos a imagem Daquele que, por amor, nos chamou à existência.
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