Há exatos nove dias, foi promulgada uma lei estadual que obriga pais de alunos a apresentarem exame médico oftalmológico completo da criança, quando do seu primeiro ingresso em creche ou escola.
Sob o número 13.546/2016, a lei aguarda, no entanto, regulamentação por parte do Executivo. A ideia, segundo a autora do projeto de lei, a deputada estadual Fabíola Mansur, é que creches e escolas das redes pública e privada exijam a apresentação do exame no momento da matrícula.
Caso o aluno não possua, caberá às instituições de ensino o encaminhamento, num prazo de 12 meses, da criança para atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS). Não há punição prevista para o caso de essa determinação não ser seguida pelas instituições.
Segundo a deputada, os motivos para criação do projeto de lei derivam de dificuldade de acesso à consulta oftalmológica por parte de crianças que estão entrando na rede de ensino. Problemas na visão podem trazer consequências para estes alunos, como dificuldade de aprendizado, baixa de visão, evasão escolar e pode até mesmo levar à cegueira.
"Hoje, há adultos que nunca fizeram o exame. Adolescentes também. A ideia não é impedir a matrícula. É estimular pais para se mobilizarem e as escolas a garantirem o acesso prioritário", afirma a deputada.
Fabíola, que é oftalmologista, cita dado do Conselho Brasileiro de Oftalmologia de que três em cada 20 crianças têm deficiência ocular que exige o uso de óculos.
Ela explica que o exame de visão completo é aquele realizado em consultório por um médico oftalmologista que avalia aspectos como a acuidade visual, a avaliação do fundo de olho e da musculatura ocular, além da prescrição de óculos, caso necessário.
Para os pais que não puderem comprar óculos, a deputada indica que devem ser encaminhados para as secretarias de assistência social dos municípios.
Campanha
Ainda segundo a lei, está previsto que estado e municípios deverão promover, anualmente, campanha educativa para a realização do primeiro exame de vista da criança que ingressar na creche ou escola. No entanto, o teste do olhinho ou reflexo vermelho não será considerado como primeiro exame de vista da criança.
Para a professora Elza Melo, uma das diretoras do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Estado da Bahia (APLB), a iniciativa é interessante.
"Nós trabalhamos em escolas públicas da periferia e os pais não têm plano médico e condições de bancar. Há meninos que deixam de prestar atenção por conta de problemas na visão. É importante que a escola se preocupe com isso, mas o poder público precisa garantir que os alunos serão atendidos", ressaltou Elza.
Gerente de currículo da Secretaria Municipal de Educação (Smed), Gilmária Cunha considera a lei válida, mas frisa que será necessário adequar postos de saúde para poder atender à demanda. "A questão da visão influencia muito o aprendizado da criança", destacou.
Professores estão atentos às dificuldades dos alunos
André Ricardo Souza, de 4 anos, já apresentava problemas na visão antes de frequentar a escola, segundo sua mãe, Patricia Santos. “Desde o primeiro exame nos olhos, o médico identificou que meu filho tinha problema, mas me pediu para esperar”, contou.
Porém, só quando André Ricardo começou a frequentar o CMEI Castro Alves, localizado na Av. Jorge Amado, no bairro Boca do Rio, que o estrabismo (patologia oftalmológica que consiste no desalinhamento dos olhos) chamou a atenção dos professores e da diretora.
Cristiane Lima, diretora do Centro, foi avisada sobre as dificuldades que o jovem apresentava, na sala de aula, ao folhear livros. “Ele chegou na escola com estrabismo. Observamos e orientamos a família a procurar um oftalmologista”, resumiu.
A diretora destacou ainda que observar o comportasmento dos estudantes é importante: quando eles vão ao quadro, se aproximam muito a visão dos livros ou cadernos para poder enxergar. “Quanto mais cedo a limitação na visão for corrigida, melhor para o desempenho escolar”, disse.
Orientação
Após orientação da escola, o garoto foi receitado e utiliza óculos há um ano.
Cristiane Lima informou que se preocupa com a saúde dos alunos e sempre que percebe que algo não vai bem com algum estudante convida a família a comparecer ao posto de saúde mais próximo da escola, localizado no bairro da Boca do Rio.
“ Eu vejo como positiva esta iniciativa de identificar se o aluno tem ou não problema de visão e acredito que vai colaborar bastante no rendimento escolar”, explicou.
Atualmente a família de André Ricardo comemora o desempenho do garoto na escola e pretende sempre levá-lo ao oftalmologista para fazer exames de revisão.
“Meu filho melhorou bastante, está mais concentrado e consegue acompanhar as lições porque enxerga melhor; em maio ele fará uma revisão”, completou a mãe.
A TARDE
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