sábado, 23 de novembro de 2019

Solenidade de Cristo-Rei e os governos tiranos



Domingo, celebramos a Solenidade de Cristo-Rei. Com essa festa, finda-se o Ano Litúrgico de 2019. Diferentemente do ano civil que começa no dia 1º de janeiro e termina em 31 de dezembro, o Ano Litúrgico começa no Advento (quatro semanas que antecedem o Natal) e termina na Solenidade de Cristo-Rei. Trata-se de um calendário religioso no qual os cristãos celebram a ação salvífica realizada por Jesus, cujo ápice é a Páscoa.




A ideia de Jesus Cristo como Rei não está contaminada pela concepção de governo a que estamos acostumados. A lógica do reinado proposto pelo Mestre segue uma lógica totalmente contrária. "Vocês sabem que aqueles que são vistos como governantes das nações as dominam, e seus grandes as tiranizam. Mas entre vocês não deve ser assim. Ao contrário, quem de vocês quiser ser grande, seja o servidor de vocês. E quem de vocês quiser ser o primeiro, seja o servo de todos" ( Mc 10,42 - 44). Portanto, o serviço ao próximo é uma das características de um governo que queira se espelhar nos ensinamentos de Jesus.

Esse próximo fica explicitado no programa do início das atividades públicas de Jesus. É o pobre, o desprovido do necessário para sobreviver e da liberdade, é o endividado. Disse Jesus: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para anunciar a Boa Notícia aos pobres. Enviou-me para anunciar a libertação aos presos e a recuperação da vista aos cegos, para dar liberdade aos oprimidos, e para anunciar o ano da graça do Senhor" (Lc 4,18-19). A celebração do ano da graça do Senhor era realizada no intervalo de 50 anos e pressupunha o perdão das dívidas dos pobres e da libertação da escravidão.

O reino inaugurado por Jesus pressupõe a libertação do homem e da mulher de tudo aquilo que os escraviza e valoriza a vida. Toda lei deve estar a serviço da promoção da existência humana, portanto. Jesus não se constrange nem um pouco em reinterpretar o repouso sabático quando o que está em jogo é a vida. Por isso, afirmou categoricamente: "O sábado foi feito por causa do homem, e não o homem por causa do sábado" (Mc 2,27). E ainda vai além: "É permitido no sábado fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou matar?" ( Mc 3,4).

Nenhum governo pode propor legislação que retire direitos essenciais à promoção da vida, incentivar o racismo, a homofobia e propor carta branca a policiais para investirem contra a vida e pretensamente tentar fundamentar isso no ideal do Nazareno sobre como bem governar. Alem de ser um atentado aos princípios da boa nova anunciada pelo Filho de Maria, coloca-se em lado diametralmente oposto ao que ele pregava.

Sendo assim, celebrar Cristo-Rei é tomar consciência de que os princípios de governança defendidos por Jesus se assentam no serviço aos mais vulneráveis socialmente e na defesa de leis que promovam sua vida. Cristo reina onde homens e mulheres são libertados, onde os pobres são incluídos, onde a vida é promovida e defendida. 

Salve Cristo-Rei.

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