Por Ubiraci Moraes
Parece razoável pensar que, do ponto de
vista histórico, a morte de Jesus foi resultado de uma trama
político-religiosa. Suas atividades sempre foram contestadas e motivo de
apreensão por parte da classe dominante de sua época, que via seu poder ameaçado.
O evangelista São Marcos deixa isso bem claro ao afirmar, após uma atividade
pública de Jesus, a reação dos seus opositores: “Os fariseus saíram
imediatamente e deliberaram com os herodianos como acabar com ele” (Mc 3,6).
Essa oposição é compreensível porque o ideário que guiava o projeto libertador
de Jesus ia de encontro aos opressores, pois ele afirmava que
O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para que dê a boa notícia aos pobres;enviou-me a anunciar a liberdade aos cativos e a visão aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, para proclamar o ano de graça do Senhor (Lc 4, 18-19).
Além disso, fazia duras críticas aos líderes religiosos:
Cuidado com os letrados. Gostam de passear com largas túnicas, que os saúdem pela rua, dos primeiros assentos nas sinagogas e dos melhores lugares nos banquetes. Com pretexto de longas orações, devoram as propriedades das viúvas. Receberão sentença mais severa (Mc 12,38-40).
O Cântico da Virgem Maria também é bastante revelador quando diz: ”(...) Derruba do trono os potentados e exalta os humildes: cumula de bens os famintos e despede vazios os ricos” (Lc1,52-53).
Observa-se, desse modo, que Jesus lutava contra a opressão sofrida pelo seu povo tanto pela classe política, representada pelos partidários de Herodes, os herodianos, quanto pela classe religiosa, os fariseus. Esse sistema voltou-se contra ele e o condenou à pena de morte: morte na cruz.
Mas o seu ideal de luta contra a opressão, contra os tiranos, não morreu, continua vivo nos movimentos sociais, nas igrejas e nos sindicatos e associações que lutam pelos direitos dos trabalhadores e dos pobres; está presente naquele que se coloca em defesa dos marginalizados e dos que são vítimas de toda espécie de preconceito.
Ubiraci Moraes é agente de saúde e professor.
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