O Facebook trouxe, como lembrança, este texto que produzi há um ano e que gostaria de partilhá-lo com você; espero que aprecie a leitura.
Hoje, durante uma gostosa soneca no meu sofá, despertei ouvindo minha vizinha repreendendo o rapaz que colocava a grade de proteção na janela dela. Ele agradecia aos Orixás por alguma coisa ( não sei bem pelo que era). Só sei que, veementemente, a senhora respondeu: “Está amarrado!” . A referência e reverência às divindades da religião de matriz africana despertaram uma certa repulsa instantânea dela à crença do rapaz, que timidamente tentou contrapor-se ao desrespeito à sua fé, mas sem sucesso...
Essa resposta que costumamos ouvir de pessoas insipientes ( ou fundamentalistas) está prenhe de religiosidade. Fato. Mas acredito que é expressão de um consciente coletivo que se remete ao Brasil Colônia, quando os negros eram escravizados e vendidos nos mercados como uma mercadoria qualquer. Consequentemente sua cultura, sua religiosidade eram consideradas de pouca valia, desprezadas e até demonizadas.
Na repreensão da minha vizinha à fé do rapaz, ecoou toda discriminação racista que atravessa séculos contra os filhos da África aqui trazidos como escravos, portanto. Ainda que muitos se levantem para amarrar o racismo, o preconceito e a intolerância contra os negros, “está amarrado” se renova, se firma e ganha robustez na religiosidade fundamentalista.
Lamento o fato de não ter me levantado e protestado: está amarrado, vizinha!
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