Sabe daquelas pessoas que gostam muito dos assuntos relacionados à religião? Pois bem, eu estou entre elas. Nas religiões podem não se crer, criticar e até atacar, mas é fato que, desde que o homem se reconheceu como um ser pensante, manifestou algum sentimento religioso. Sendo assim, crer em uma divindade ( ou mais) é um traço antropológico. Não há vestígios culturais e históricos, na Antiguidade, que comprovem que o homem e a mulher não manifestaram nenhuma crença em Deus ou Deuses. Aliás, o ateísmo é um fenômeno da modernidade. Antes, ao contrário, havia um "excesso de Deuses".
Minha formação básica religiosa é o cristianismo na versão católica. Se tivesse nascido em algum país árabe, muito provavelmente seria muçulmano. Dessa forma, minha visão de mundo, no que tange ao essencial, se reporta a Jesus. Penso ser fantástica a proposta do Mestre de colocar o amor (ágape) como norteador da existência humana. "Amem-se uns aos outros como os amei" (Jo 15,12) ou "Amem os inimigos, fazei bem aos que os odeiam, falem bem dos que os maldizem e rezem por quem os calunia" (Lc 6,27-28) é uma aprendizagem para a vida toda. Mesmo com as vacilações, quando enveredamos por esse caminho, sentimos que é uma tarefa que vale a pena. Amar nos ajuda a vencer muitos empecilhos e obstáculos. Leonardo Boff fala com muita propriedade quando afirma que "viver essa dimensão do amor é ser livre. A ofensa , a humilhação e a violência recebidas nos mantêm presos na amargura e não raro, com espírito de vingança". Ou seja, amar como Jesus propõe vale a pena.
O candomblé é outra compreensão do sagrado pela qual tenho muita simpatia. Penso ser interessante a manifestação do divino na obra que criou. Os Orixás são a ação do Deus supremo em favor do homem e da mulher. Sua liturgia me encanta: suas músicas, suas danças e a forma como louvam Deus é maravilhosa.
Por isso, sou daqueles que acreditam que não há incompatibilidade entre as religiões naquilo que há de essencial nelas: religar o ser humano à divindade, a Deus. Não quero afirmar, porém, que todas são a mesma coisa. Nem poderia, uma vez que a apreensão do sagrado é sentida de maneira diferente por cada cultura. Acredito que todas as religiões devem se deixar amorizar; no amor, elas se encontram. Sem ele, todas se perdem. "Todo aquele que ama é filho de Deus e conhece a Deus" (Jo 4,7). Aqui, já não importa se você é candomblecista, espírita, muçulmano, judeu, evangélico ou católico; o que importa é amar. Podemos até professar um credo desses, mas, se não amamos, não somos nada, estamos perdidos, presos às próprias prisões. Acredito nisso, procuro acreditar nisso, trata-se de uma longa aprendizagem. Como canta Amelinha, "foi Deus que fez a gente somente para amar".