Pronto!
Agora foi a “toda poderosa” TV Globo que mostrou, em rede nacional, o
que já sabemos pela dor. Muitas pessoas são mortas todos os dias pelas
polícias no Brasil. E desde sempre.
Falo do “Profissão Repórter”
que foi ao ar na noite desta terça-feira (25). O jornalista Caco
Barcellos, com a ajuda de seus alunos, pareceu reviver sua maior obra, o
“Rota 66 – A História da polícia que mata“
de 1992, ganhador do Prêmio Jabuti de 1993. No livro,
Barcellos desmonta o “esquadrão da morte oficial”, organizado pela ROTA
em São Paulo. Qual teria sido sua conclusão tantos anos depois?
Foi do jeito Globo, mas não foi ruim! O programa mostrou
casos emblemáticos e conhecidos de ações violentas da polícia e que
resultaram em mortes, com destaque para o Massacre do Cabula e a resistência da Campanha Reaja
em Salvador. Mostrou também casos de policiais mortos em trabalho e até
o inspirado trecho de um discurso do recém eleito deputado estadual de
São Paulo, o ex-comandante da Rota Coronel Telhada: “Somos os mocinhos da História e estamos na luta contra o mal !”.
Movimentos denunciam chacina em Salvador-BA
Mas o discurso do parlamentar milico não se sustentou! A abordagem
do programa explicitou: A polícia pratica extermínio institucionalizado;
Forja flagrantes e boletins de ocorrência; Encena tiroteios; Planta
armas e drogas; adultera locais de ocorrências; Tortura; Acoberta
policiais assassinos; Intimida quem denuncia e/ou investiga. E o mais
importante: São práticas habituais, comuns, continuadas.
Policiais também são mortos é verdade, numa proporção 50 vezes
menor, mas são. Estes, vítimas de uma lógica de guerra e do endosso à
prática violenta que só gera ainda mais violência e vingança. Todos
filhos da classe trabalhadora. Ricos, via de regra, não sonham nem
precisam ser policiais. Vidas são vidas. E, diante da perda brutal, há
sempre quem as chore. Quase sempre mães. Muitas vezes filhos.
A maioria esmagadora dos mortos são negros. Esse dado não estava no texto do programa. Nem fez falta. Doeu ver as fotos dos jovens assassinados no Cabula, todos negros! E quase todos os outros.
É verdade que o programa não
desceu às causas estruturais do problema da segurança pública. Não
identificou responsáveis. Ignorou o papel da mídia na construção do
discurso justificador da violência policial. Não citou responsabilidades
de governos e tampouco procurou quem de fato se beneficia com o
massacre cotidiano. Seria pedir demais.
Ato simbólico de manifestantes no local da chacina do Cabula, em Salvador-BA
Fato é que, apesar da
superficialidade, a veiculação de um programa com esse conteúdo em rede
nacional pela principal rede de comunicação do país nos ajuda a reforçar
o óbvio: Não podemos conviver nem mais um momento com uma polícia, uma
prática e uma mentalidade que banalize massacres afim de manter a
nobreza das elites racistas desse país. Não podemos aceitar a
continuidade de um Estado determinado a manter um projeto genocida de
desenvolvimento.
Falta o Papa pedir o fim da violência? Ele já pediu!
Falta a presidenta reconhecer a gravidade do problema? Ela já reconheceu!
Mais do que nunca é preciso discutir com seriedade o fim da Polícia
Militar no Brasil bem como uma nova política que Segurança Pública que
realmente garanta a vida.
Ato de manifestantes no local da chacina do Cabula, em Salvador-BA
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