Crônica do Menalton
Agora Inês é morta
Que a expressão significa alguma coisa como tarde demais ou algo parecido, isso toda gente sabe. Um prazo vencido, uma oportunidade
perdida, algum acontecimento irreversível, e lá vem alguém e diz: Agora
Inês é morta. Quantas e quantas vezes cada um de nós já não coroou sua
Inês! Sim, porque somos uma espécie de autômatos que perambulam pelo
planeta, distraídos, sem ver o que nos acontece ao redor. Ou, pelo
menos, só vendo o que a televisão nos ordena ver.
O que nem todos conhecem é a origem da expressão. Até outro dia este cronista também não conhecia. Há quem diga que só com a morte paramos de aprender. E eu estou muito inclinado a crer nisso.
Em várias obras literárias, desde Fernão Lopes (pai de todos nós, os que escrevemos crônicas, cronista-mor que ele foi del Rei D. Duarte, no século XV), passando por Sá de Miranda e chegando a Camões, encontra-se a história da infeliz Inês de Castro. Esta, uma nobre galega, veio para Portugal como aia de Dona Constança, futura esposa de Dom Pedro I, de Portugal.
O príncipe, cujo casamento fora arranjo da Corte, apaixonou-se pela dama de companhia de sua mulher. Até aí, nada de extraordinário, situação bastante comum naquelas épocas em que o sangue bom, mas bom mesmo, ainda era o sangue azul. E olha que logo depois Camões diria que o amor é fogo que arde sem se ver.
Morta Dona Constança, os conselheiros de Afonso IV exigiram que o príncipe Dom Pedro tomasse esposa indicada por eles e rompesse as relações com sua amada. Temiam que, por sua influência, Portugal perdesse a independência. Não houve jeito de convencer o príncipe, por isso, e por conspiração dos conselheiros, ele foi mandado para a guerra. Enquanto fora o príncipe, reunida a Corte, Inês de Castro foi trazida do interior, onde se encontrava, e num julgamento sumário foi condenada à morte e ali mesmo, no palácio, foi degolada.
Tudo isso por amar o príncipe e ser doidamente amada por ele.
Dois anos depois, morreu D. Afonso e Dom Pedro, seu filho e príncipe herdeiro, foi coroado, iniciando sua vingança. Mandou executar todos os participantes do cruel julgamento. Dois deles tiveram os corações extraídos do peito − um pela frente e o outro pelas costas. Em seguida, ordenou que fossem trazidos os restos mortais de Inês de Castro para o palácio. Assentada no trono, todos os cortesãos foram obrigados a desfilar perante ela para o beija-mão. E isso, depois de Inês de Castro ter sido coroada rainha.
Mas a coroação não fazia mais sentido prático nenhum, pois agora Inês já estava morta. A coroa chegou atrasada.
Carta Capital
O que nem todos conhecem é a origem da expressão. Até outro dia este cronista também não conhecia. Há quem diga que só com a morte paramos de aprender. E eu estou muito inclinado a crer nisso.
Em várias obras literárias, desde Fernão Lopes (pai de todos nós, os que escrevemos crônicas, cronista-mor que ele foi del Rei D. Duarte, no século XV), passando por Sá de Miranda e chegando a Camões, encontra-se a história da infeliz Inês de Castro. Esta, uma nobre galega, veio para Portugal como aia de Dona Constança, futura esposa de Dom Pedro I, de Portugal.
O príncipe, cujo casamento fora arranjo da Corte, apaixonou-se pela dama de companhia de sua mulher. Até aí, nada de extraordinário, situação bastante comum naquelas épocas em que o sangue bom, mas bom mesmo, ainda era o sangue azul. E olha que logo depois Camões diria que o amor é fogo que arde sem se ver.
Morta Dona Constança, os conselheiros de Afonso IV exigiram que o príncipe Dom Pedro tomasse esposa indicada por eles e rompesse as relações com sua amada. Temiam que, por sua influência, Portugal perdesse a independência. Não houve jeito de convencer o príncipe, por isso, e por conspiração dos conselheiros, ele foi mandado para a guerra. Enquanto fora o príncipe, reunida a Corte, Inês de Castro foi trazida do interior, onde se encontrava, e num julgamento sumário foi condenada à morte e ali mesmo, no palácio, foi degolada.
Tudo isso por amar o príncipe e ser doidamente amada por ele.
Dois anos depois, morreu D. Afonso e Dom Pedro, seu filho e príncipe herdeiro, foi coroado, iniciando sua vingança. Mandou executar todos os participantes do cruel julgamento. Dois deles tiveram os corações extraídos do peito − um pela frente e o outro pelas costas. Em seguida, ordenou que fossem trazidos os restos mortais de Inês de Castro para o palácio. Assentada no trono, todos os cortesãos foram obrigados a desfilar perante ela para o beija-mão. E isso, depois de Inês de Castro ter sido coroada rainha.
Mas a coroação não fazia mais sentido prático nenhum, pois agora Inês já estava morta. A coroa chegou atrasada.
Carta Capital
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