Conta-nos o autor do Evangelho de São Marcos: "João disse a Jesus: 'Mestre, vimos alguém expulsando demônios em teu nome e lhe proibimos, porque não nos segue. Jesus porém disse: Não lhe proíbam. Pois não há ninguém que faça um milagre em meu nome e logo em seguida possa falar mal de mim. De fato, quem não está contra nós, está a nosso favor" (Mc 9,38-40).
O trecho acima demonstra o quão é tentador fazer da fé um monopólio fechado e exclusivo. Enxergar-se como o único detentor da verdade, aponto de agir contra qualquer um que não faça parte do nosso grupo, gueto ou comunidade de fé. Essa rejeição às diferentes formas de expressar o Sagrado está nos porões de toda ação violenta, de desprezo e perseguição, que alimenta a intolerância religiosa.
Reconhecer a humanidade como diversa e plural é o primeiro passo para que as manifestações religiosas possam ser respeitadas e acolhidas. Cada expressão do Sagrado, das mais variadas culturas e grupos étnicos, são interpretações legítimas da divindade. Por isso, ninguém pode se sentir mais superior ou mais agraciado tendo como princípio a fé que professa.
No Brasil - sobretudo no Brasil -, há comunidades de fé que citam: " Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém chega ao Pai, a não ser por mim" (Jo 14,6) como instrumento de segregação, discriminação e respaldo para palavras e ações violentas contra outras comunidades de fé. Um tremendo escândalo, portanto, contra o que Jesus ensinou. Abraçar o projeto do Mestre é abraçar o projeto de valorização da vida, é apoiar tudo que dignifique a pessoa humana, e não ser dono da verdade.
Uma melhor tradução para o trecho acima é: "Eu sou o verdadeiro caminho que leva à vida". De fato, o Galileu afirma: "Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância" (Jo 10,10). A verdade trazida por Jesus é vida, muita vida. Todos comprometidos com a vida estão a favor dele e estão com ele. O princípio norteador da religião é religar todos a Deus, fonte de vida e sustentáculo de tudo que existe, logo é promover a vida de todo ser existente.
Está contra a vida, portanto, contra a pregação de Jesus quem dissemina o que não desenvolve nem promove a existência humana. A intolerância religiosa tem sido causa das mais variadas expressão de violência. Apedrejamento, invasão de terreiros, agressões física e verbal a adeptos de comunidades de fé de matriz africana são exemplos dos quais os candomblecistas são vítimas constantemente. Dessa forma, a intolerância religiosa deve ser combatida por meio da educação consciente e libertadora, que compreenda o ser humano e o mundo na sua diversidade e pluralidade.
Qual é a religião verdadeira então? O intolerante religioso responde: "A minha, somente a minha! “A melhor religião é a que mais te aproxima de Deus, do Infinito. É aquela que te faz melhor", respondeu o líder budista Dalai Lama. "É a que socorre os órfãos e viúvas em seu sofrimento e não se deixa corromper pelo mundo ( Tg 1,27)", afirma São Tiago. Acreditamos que a religião verdadeira é aquela que promove a vida em todas as dimensões, combatendo a injustiça social, a miséria, o racismo, a misoginia, a homofobia e toda espécie de preconceitos em clara sintonia com os ensinamentos éticos e morais de Jesus, o Filho de Maria.