Pesquisa estima que 434 mil pessoas faleceram devido a "eventos adversos" em 2015
SÃO PAULO - A cada três minutos, mais de dois brasileiros morrem em hospitais públicos ou privados como consequência dos chamados "eventos adversos", erros que geram danos ao paciente durante o processo de cuidados como, por exemplo, troca de medicamentos ou falta de higienização que pode causar infecção hospitalar. Em 2015, considerando o sistema de saúde nacional - público e privado -, os óbitos provocados por essas falhas foram estimados em 434,11 mil, ou 1,19 mil por dia, segundo pesquisa do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS) produzida pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Segundo o estudo "Erros acontecem: A força da transparência no enfrentamento dos eventos adversos assistenciais em pacientes hospitalizados", se os eventos adversos em pacientes hospitalizados fossem um grupo de causa de óbito, estaria entre a 1ª e a 5ª posição, sendo uma das mais frequentes no país. Para efeito de comparação, em 2013, o país registrou 339,67 mil mortes por doenças do aparelho circulatório.
Na ausência de dados oficiais, os pesquisadores fizeram cálculos baseados em resultados encontrados em trabalhos anteriores e nas estatísticas de internações. Eles estimaram que, no país, entre 104.187 e 434.112 mortes por ano podem estar associadas a eventos adversos assistenciais hospitalares. No melhor cenário, seria a 5ª causa de morte; em um considerado pelos pesquisadores mais realista, poderia ser a primeira ou a segunda causa.
- Eu diria que quase a totalidade de falhas que acontecem dentro de hospitais não são por negligência, por erro nem de médicos e enfermeiros ou de profissionais. Estão muito mais associados a erro de planejamento, a falhas de processo do que a negligência de profissionais - explica a médica Tânia Grillo Pedrosa, uma das autoras do estudo ao lado do também médico Renato Couto e do farmacêutico Mario Borges Rosa.
O superintendente executivo do IESS, Luiz Augusto Carneiro, afirma que o estudo tem como um dos principais objetivos avançar na transparência de indicadores de qualidade da saúde no Brasil.
- Diferentemente de todos os sistemas de saúde desenvolvidos, no Brasil não existe transparência sobre esses indicadores de qualidade e segurança do paciente. E não é muito difícil resolver esse problema, precisaria apenas de uma portaria do Ministério da Saúde. O que estamos sugerindo não é a reinvenção da roda, muito pelo contrário. É já utilizar a vasta experiência internacional e fazer uma divulgação obrigatória de forma gradual - defende Carneiro.
Tânia Grillo afirma que, embora a legislação brasileira esteja cada vez mais robusta, é preciso colocar a implantação das recomendações em prática.
- É uma somatória de políticas para fazer frente às necessidades que o nosso sistema ainda demanda em sua grande parte. Entre haver a legislação, que é muito boa, e a implantação das recomendações é necessário o apoio à estruturação de governança da rede, desenvolvimento de competências, treinamento, recursos. É uma estruturação de um grande programa da cultura de segurança em que a transparência é o principal mecanismo para que isso se torne viável e chegue ao cidadão.
Os eventos adversos já foram reconhecidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um problema de saúde pública. No mundo, ocorrem por ano, segundo o estudo, 421 milhões de internações hospitalares e 42,7 milhões de eventos adversos. Nos Estados Unidos, país com população de quase 325 milhões de pessoas, são registrados cerca de 400 mil óbitos por ano provocados por eventos adversos, sendo a terceira principal causa de mortes no país, depois de doenças cardiovasculares e câncer.
- Nos Estados Unidos hoje há muita transparência. Você consegue consultar indicadores de qualidades nos país inteiro. Aqui no Brasil se você pegar os hospitais considerados os melhores do país não sabe qual é a taxa de indicadores de nenhum, porque eles não são de divulgação obrigatória - compara Carneiro.
O GLOBO
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